Depois de um mês de março surpreendente - 23 partidas; 14 jogos, a metade deles jogada pela primeira vez -, o mês 4 me trouxe, não ironicamente, justos 4 jogos.
Abril foi um desmantelo só, tal qual os Breves e os Ferreiras de Karim Aïnouz, mas os joguinhos me salvaram da esculhambação total, a começar por uma partida - já era dia 20 - no Castelão - opa, opa, opa! Não vou escrever sobre futebol aqui, deixa disso.
Explorando os riscos
Também conhecido pelo seu nome gringo, Lost Cities - claro que chamar pelo nome em português é muito mais interessante -, Exploradores (1999; Reiner Knizia) é assustadoramente simples. Joga-se apenas com cartas e só cabem 2 pessoas na mesa. Ao bom estilo kniziano, trabalhamos com probabilidades e riscos aqui. Quando se lê na caixa "Aventura-te no desconhecido" ou "Aventúrate en lo desconocido" (a minha cópia é uma edição bilíngue da Devir), estão falando do grande volume de aleatoriedade presente no monte de cartas costumeiramente bem embaralhado. Todo turno é uma decisão difícil a tomar. O constante cálculo de riscos aqui é até bem estressante para um jogo de 76 cartinhas, viu? Não se enganem. Eu sei é que, depois das três dolorosas rodadas de 21 de abril, obtive o meu melhor resultado, 144 pontos, frente aos 84 de Marcela, a minha principal oponente nesse jogo. Aliás, nossa primeira partida de Exploradores aconteceu na luderia Balboa's Hobby Games (Fortaleza, Ceará) em 31 de maio de 2019, com vitória dela.
O Urso
Tratando de jogos eletrônicos - desculpa aê de novo -, meio que parei nos 16 bits, mas Italo, amigo das antigas e parceiro de jogatinas (analógicas, quase sempre), nos apresentou - vamos de próclise, mesmo -, numa manhã de domingo tranquila do Pecém, litoral oeste, ao Overcooked. Isso era 2018, acho, e lembro muito bem de a gente se empolgar bastante, a ponto de passar horas jogando depois que o adquiri na Steam dias depois. Overcooked é um cooperativo em que chefs de cozinha preparam pratos, lavam pilhas de louça e apagam incêndios (sim, incêndios, literalmente incêndios) num ritmo frenético, avassalador e estressante (olha que delícia para gente ansiosa). Eis que um jogo de tabuleiro com a mesma proposta é publicado no Brasil nessa mesma época em que brincávamos de Carmy e Syd - despejando aqui mais uma referência; tô nem aí. Já era 2019 quando me deparei com uma promoção e não deu outra: Kitchen Rush (2017; Dávid Turczi) entrou para a ludoteca da família com a mesma animação e premissa de Overcooked, que não sai da coleção de jeito maneira por conta desse contexto bacana e por ser o único daqui jogado em tempo real. A primeira vez que jogamos, em julho de 2019, foi justamente no Pecém, onde tudo começou. E a primeira vez que ganhamos foi agorinha, em 26 de abril de 2024. Gastronomia é um troço gostoso, mas complicado.
O Grande Jogo
Quando Pax Pamir: Segunda Edição (2019; Cole Wehrle, o mesmo de Root) se acomodou na estante - está desde 2022 ao lado de Puerto Rico, não sei por quê -, falei que era o tipo de jogo com grande potencial para avacalhar com os nossos coraçõezinhos frágeis. Demorou mais de dois anos para a constatação vir e é isso, mesmo. Pax Pamir é avassalador, um design realmente primoroso. Foram três partidas numa semana só e ando querendo é todo dia. Não sei nem descrever, sabia? É um jogo econômico de guerra baseado em cartas? Sei lá. Tem interação direta, negociação, gerenciamento de mão, influência de área, construção e desconstrução de alianças, cabo de guerra, História... Podia ser só muita coisa junta e bem resolvida em termos de design, mas, além de tudo, o bicho é lindo de morrer. Nã! Pax Pamir já é uma das melhores experiências que tive em sentir cada momento do jogo, perceber as mecânicas acontecendo numa dinâmica intrigante e complexa. Jogamos a última partida Marcela, Italo (aquele mesmo) e eu numa tarde de sábado, 27 de abril de 2024. A interação em três jogadores é outra: exige mais atenção; reviravoltas podem acontecer mais facilmente; o mercado gira mais velozmente. Achei mais divertido em comparação com a partida em 2 embora tenha amado nas duas configurações - jogo em duelo sempre que me chamarem, pode crer.
A rebeldia de Copas
Não sou dos alucinados por carteados, mas eles tem o seu devido lugar de destaque em certas ocasiões. Mexe-mexe talvez seja o jogo que mais joguei na vida e isso é papo para outras paragens - não quero chorar agora. Aprendi a jogar Copas muito recentemente - ano passado? - e tenho matado um tempo razoável via celular com as vazinhas. Rebel Princess (2023; Daniel Byrne, José Gerardo Guerrero, Kevin Peláez, Tirso Virgós) já me ganhou pelo manual escrito tomando como referência o gênero feminino. Quando me deparei com o clássico e gostoso Copas com uns apetrechos aqui e ali, gostei bastante do que vi (a arte é maravilhosa), li e joguei. Reunimos parte da Confraria Lúdica numa pizzaria aqui perto de casa e rodou suave em 5: Marcela, Italo, Wellington, Letícia e eu. Em paralelo, foi preciso jogar bingo de animais com Eduarda (4 anos), o que tornou a mesa levemente caótica em meio a princesas rebeldes, príncipes indesejados, sapos, pizza sem glúten, pizza sem lactose e animais de toda sorte. É para esse tipo de situação que um carteado cai bem, não?